segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Rotina


O relógio desperta cedo,
 Muito cedo pra quem dormiu tarde demais,
 Levanta, toma seu banho,
Toma o café que sua companheira fez,
 Tudo sem fazer muito barulho
Seus rebentos estão dormindo. 
Depois de um beijo na esposa sai de casa,
 Dirige-se ao trabalho
À correria nossa de todos os dias.
Ele vai de bicicleta,
Uma que acabara de pagar a décima segunda prestação,
Quitando assim o seu debito na loja
Onde compra e paga religiosamente.
Pra dificultar, hoje está chovendo,
Está indo vestido numa bermuda e uma camiseta,
Sem capa pra lhe proteger,
Não sobrou dinheiro esse mês para comprar a capa,
 E na sacola, sua roupa de trabalho.
Mora longe de onde trabalha,
Quarenta e cinco minutos de bicicleta,
 Por isso não vem almoçar com a família,
Leva a marmita numa outra sacola.
Marmita que uma vez por mês vê carne,
 No restante, arroz e feijão e as vezes um ovo frito.
Pedalando e cantando
Ele segue o caminho.
Se lembra de quando era criança,
Que banhava na chuva por pura diversão,
Ouvia sua mãe chamando pra dentro de casa,
para não pegar um resfriado,
E agora está na chuva por obrigação,
Tem filhos e esposa para alimentar.
Pronto! Chegou na construção,
Dentre  dezenas que agora tem na cidade,
Ele trabalha numa construção de um condomínio de luxo.
O ajudante de pedreiro,
A cada traço de massa que faz,
Sonha com a sua casa própria,
Com um quarto que dê privacidade a esposa e ele,
Quarto para as crianças,
 E uma cozinha onde todos possam
 Fazer as refeições juntos,
E não no chão de um cubículo que usam como sala.
Ele ajuda a construir residências
Que não pode ser dele,
Por que o salário que ganha
Só dá de pagar as dívidas e fazer a compra do mês. 
Ele nem se lembra a última vez que levou
Sua família no parque,
Pra fazer um lanche fora.
Deu meio dia.
Junto com seus companheiros de trabalho
Vai almoçar,
 É o momento de colocar as conversas em  dias,
Contam o que aconteceu no fim de semana,
Tiram sarro do colega perna-de-pau do time,
E compartilham seus sonhos  e problemas.
E, é hora de voltar ao batente,
As vezes dá tempo de tirar um cochilo
Num canto ou outro,
Mas hoje é segunda-feira, 
Dia de colocar o papo em dias.
E não tem reclamação
 É feliz por ter aquele serviço,
Mesmo sendo mal remunerado
Por não ter um diploma que comprovasse sua formação na área,
tão pouco sua experiência comprovada em carteira.
A chuva que caia pela manhã,
Já cessou a muito tempo 
E agora é o sol que castiga sua pele.
Mas mesmo assim continua cantando Roberto Carlos,
a música que embala o romance com sua amada.
 Já são dezoito horas,
Mas como sempre vai fazer hora-extra,
Precisa aumentar sua renda no fim do mês.
Normalmente sai as vinte e duas horas,
Quando chegar em casa seus filhos já estarão dormindo,
Ele lamenta por não ter tempo de conversar, de brincar com as crianças,
Mas entende que é um sacrifício necessário,
Pra não faltar o pão de cada dia.
Quando chega em casa, toma seu banho,
Conversa com a mulher pra saber e falar como foi o dia de todos,
E vão dormir.

Por Paulo Villa Real

Um comentário:

  1. Êta vida dura... mas honesta!
    Parabéns por registrar aspectos da vida comum que jamais encontraremos nas livrarias...

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