O relógio desperta cedo,
Muito cedo pra quem
dormiu tarde demais,
Levanta, toma seu
banho,
Toma o café que sua companheira fez,
Tudo sem fazer muito
barulho
Seus rebentos estão dormindo.
Depois de um beijo na esposa sai de casa,
Dirige-se ao trabalho
À correria nossa de todos os dias.
Ele vai de bicicleta,
Quitando assim o seu debito na loja
Onde compra e paga religiosamente.
Pra dificultar, hoje está chovendo,
Está indo vestido numa bermuda e uma camiseta,
Sem capa pra lhe proteger,
Não sobrou dinheiro esse mês para comprar a capa,
E na sacola, sua roupa
de trabalho.
Mora longe de onde trabalha,
Quarenta e cinco minutos de bicicleta,
Por isso não vem
almoçar com a família,
Leva a marmita numa outra sacola.
Marmita que uma vez por mês vê carne,
No restante, arroz e
feijão e as vezes um ovo frito.
Pedalando e cantando
Ele segue o caminho.
Se lembra de quando era criança,
Que banhava na chuva por pura diversão,
Ouvia sua mãe chamando pra dentro de casa,
para não pegar um resfriado,
E agora está na chuva por obrigação,
Tem filhos e esposa para alimentar.
Pronto! Chegou na construção,
Dentre dezenas que
agora tem na cidade,
Ele trabalha numa construção de um condomínio de luxo.
O ajudante de pedreiro,
A cada traço de massa que faz,
Sonha com a sua casa própria,
Com um quarto que dê privacidade a esposa e ele,
Quarto para as crianças,
E uma cozinha onde
todos possam
Fazer as refeições
juntos,
E não no chão de um cubículo que usam como sala.
Ele
ajuda a construir residências
Que não pode ser dele,
Por que o salário que ganha
Só dá de pagar as dívidas e fazer a compra do mês.
Ele nem se lembra a última vez que levou
Sua família no parque,
Pra fazer um lanche fora.
Deu meio dia.
Junto com seus companheiros de trabalho
Vai almoçar,
É o momento de
colocar as conversas em dias,
Contam o que aconteceu no fim de semana,
Tiram sarro do colega perna-de-pau do time,
E compartilham seus sonhos
e problemas.
E, é hora de voltar ao batente,
As vezes dá tempo de tirar um cochilo
Num canto ou outro,
Mas hoje é segunda-feira,
Dia de colocar o papo em dias.
E não tem reclamação
É feliz por ter
aquele serviço,
Mesmo sendo mal remunerado
Por não ter um diploma que comprovasse sua formação na área,
tão pouco sua experiência comprovada em carteira.
A chuva que caia pela manhã,
Já cessou a muito tempo
E agora é o sol que castiga sua pele.
Mas mesmo assim continua cantando Roberto Carlos,
a música que embala o romance com sua amada.
Já são dezoito horas,
Mas como sempre vai fazer hora-extra,
Precisa aumentar sua renda no fim do mês.
Normalmente sai as vinte e duas horas,
Quando chegar em casa seus filhos já estarão dormindo,
Ele lamenta por não ter tempo de conversar, de brincar com
as crianças,
Mas entende que é um sacrifício necessário,
Pra não faltar o pão de cada dia.
Quando chega em casa, toma seu banho,
Conversa com a mulher pra saber e falar como foi o dia de
todos,
E vão dormir.
Por Paulo Villa Real
Êta vida dura... mas honesta!
ResponderExcluirParabéns por registrar aspectos da vida comum que jamais encontraremos nas livrarias...