Todos
ali sabiam que a maioria das revistas e dos jornais mais vendidos do
país tem como primeiro objetivo vender, como segundo objetivo vender e
como terceiro objetivo manter a condição de bons vendedores.
Todos
ali também sabiam que o direito de fazer o som e a imagem chegar a
qualquer aparelho de rádio ou televisão é um direito de todos. Porém, é
um direito que foi roubado e restrito a poucas emissoras. Chamavam de
latifúndio no céu...
Todos ali sabiam também que a
experiência de vida da maioria dos jornalistas que trabalham para a
mídia-porta-voz-do-poder-de-voz limita-se ao que vivenciam em ambientes
como clubes, academias, hotéis, boates, shoppings e restaurantes.
Basicamente isso. Da infância à aposentadoria. Típicos seres humanos de
condomínio. São pessoas que talvez até possam saber o que é trabalhar
muito. Mas, antes e depois de trabalhar, dormem numa casa confortável,
tomam um café da manhã confortável, entram num carro confortável,
trabalham num escritório confortável e se divertem em lugares
confortáveis.
São pessoas que só conhecem pessoas
do povo a partir da relação “você me serve, eu te pago”. Conhecem
empregadas domésticas, faxineiras, jardineiros, porteiros de prédio,
vigias de carro, garçons, balconistas etc. São pessoas que, também por
isso, não sonham com um mundo igualitário. Igualitário no que diz
respeito às relações de poder, no que diz respeito às possibilidades
iguais de poder ser feliz.
Todos ali sabiam (e se
não sabiam imaginavam) que, em sua maioria, os jornalistas que se
propõem a trabalhar para a mídia-alto-falante-do-que-fala-a-classe-alta
foram estudantes universitários com pouca ou nenhuma formação política.
Foram estudantes do tipo que não se interessam pelos problemas da
humanidade, nem se indignam o suficiente com as injustiças sociais de
cada país. Não entendem e não procuram entender como as sociedades estão
organizadas, como poderiam se organizar.
Todos
ali também sabiam que as pessoas mais sensatas (aquelas que, no caso,
têm o mínimo de formação política) não teriam tempo de fazer mais nada
na vida se resolvessem retrucar diariamente a ignorância política ou o
oportunismo tendencioso dessa mídia que publica o ódio ao socialismo e a
ode ao capitalismo.
Todos ali sabiam disso tudo e
de outras coisas mais. Entretanto, ainda havia muito o que aprender
sobre o tema. E era por isso que estavam ali, sentados em círculo,
debatendo esse assunto. O debate estava sendo organizado por jovens que
faziam parte da Brigada de Agitação e Propaganda “Semeadores”, um grupo
criado pelo Coletivo de Cultura do Movimento Sem Terra (DF e entorno).
Ali, tinham trinta e poucos jovens, a maioria, assentados. A outra parte
era formada por estudantes universitários do curso de comunicação
social.
E o debate seguia produtivo. A cada
avanço nas discussões, duas sensações prevaleciam. Primeiro, a
satisfação em avançar por adquirir tais conhecimentos. Segundo, o
desespero de não poder fazer nada para evitar o que acontecia há
décadas: às oito da noite, milhões e milhões de fiéis sintonizados no
mesmo canal, vendo e ouvindo as mesmas reportagens, feitas por seres
humanos de condomínio.
Autor:Fábio Carvalho
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