Morador
de Nova York, o documentarista Jacob Bender presenciou os atentados de
11 de setembro de 2001. Após o impacto inicial, passou a refletir sobre
as políticas de segurança adotadas pelos Estados Unidos, baseadas em
teses como a do choque de civilizações entre Ocidente e Oriente, que
inviabilizaria a convivência entre povos de diversas origens e
religiões.
O questionamento dessa impossibilidade
é o ponto de partida da jornada empreendida por Bender, que se apoia em
duas figuras importantíssimas do pensamento tanto do Ocidente como do
Oriente, os filósofos Averroes e Maimônides, para retornar à Espanha
medieval, onde judeus, muçulmanos e cristãos coexistiam pacificamente.
Na
Andaluzia, sua primeira parada, Bender constata, com a ajuda dos dois
“sábios de Córdoba”, que a cultura árabe está no coração da cultura
ocidental. O período em que essa região esteve sob domínio árabe foi de
florescimento das ciências e da criatividade de forma geral, enquanto o
resto da Europa estava mergulhada na privação de conhecimento que
caracterizou a Idade Média.
As obras de
Aristóteles, por exemplo foram redescobertas pelos estudiosos árabes que
viviam em Al Andalus. Averroes, muçulmano e de origem árabe, fez
comentários importantíssimos sobre seus escritos, sendo um dos
responsáveis pelo diálogo de Al Andalus com a Grécia Clássica. Já
Maimônides, de origem judaica, estudou medicina e relacionou a ciência
com suas atividades religiosas, rejeitando qualquer forma de dogmatismo.
Ambos nasceram em Córdoba e tiveram de deixar a cidade após a expulsão
dos árabes pelos cristãos.
Bender segue os passos
dos filósofos por Marrocos e Egito, além de visitar locais onde suas
obras voltaram a ser estudadas posteriormente, como França e Itália. Em
paralelo, o diretor busca elementos que refutam a teoria do choque de
civilizações, demonstrando a contemporaneidade do pensamento dos “sábios
de Córdoba”, que já se colocavam contra qualquer forma de segregação
baseada na religião.
A jornada do diretor termina
com a passagem por Israel e Palestina, onde o documentarista reflete
sobre o conflito entre judeus e palestinos, se posicionando contra
iniciativas como a construção do muro da Cisjordânia, o estabelecimento
de assentamentos irregulares e a derrubada de casas de famílias
palestinas.
Ao passar por esses locais,
relacioná-los ao conhecimento produzido por Averroes e Maimônides, e
entrevistar pessoas que estão utilizando suas tradições religiosas para
desafiar as proposições mais conservadoras, Jacob Bender produz um
libelo à tolerância religiosa e à convivência pacífi ca entre povos de
diferentes origens.
Fonte: Brasil de Fato
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